.
Além de estimular o raciocínio lógico, a linguagem de computação
possibilita um uso inteligente da tecnologia em sala de aula
A turma da Cyber Rex e seu robô campeão: tecnologia que se aprende na prática.
Dez horas da manhã de uma quinta-feira e a Escola Municipal Prefeito Omar Sabbag, em Curitiba, fervilha com as atividades do ensino em tempo integral. Enquanto o berimbau ecoa na aula de capoeira, na sala ao lado um grupo se diverte escrevendo fórmulas matemáticas e calculando probabilidades em um mapa na parede. Esta é a sede da equipe de robótica Cyber Rex, atual campeã paranaense e da Região Sul do torneio First Lego League. São jovens de 12 a 14 anos com um robô na bagagem e a linguagem de programação na ponta da língua.
A indústria de brinquedos Lego produz o “coração” do robô e distribui o software que o controla. Além de montar um robô bacana e eficiente, os alunos devem pensar em linhas de comandos que o boneco vai obedecer.
Por trás disso tudo está a linguagem de programação, uma série de comandos que determina o que um eletrônico deve ou não fazer. Basta um comando de “executar” e uma longa lista de zeros e uns (ou “sins” e “nãos” na linguagem dos computadores) para que esse punhado de códigos vire um aplicativo de celular ou jogo de videogame.
Para quem não conhece, a programação parece ininteligível – como a tela verde do filme Matrix. Na verdade, há uma lógica simples por trás desses comandos: incentivar qualquer pessoa com idade entre 4 e 104 anos a aprender o básico da programação. Esta, aliás, é a premissa do movimento internacional Code.org . No lugar de números, o sujeito programa personagens do jogo Angry Birds ou do filme Frozen, por exemplo. Para alunos do 6.º ano em diante, a plataforma Khan (produzida pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts) ensina os conceitos básicos da programação JavaScript.
Em português
No Brasil, o movimento foi batizado de A Hora do Código e apadrinhado pela Fundação Lemann, que traduziu as ferramentas para o português. Ao todo, 782.461 brasileiros já participaram. Metade de mulheres, o que é um fator marcante em uma área classificada como “masculina”, conta o coordenador de projetos da fundação, Lucas Machado Rocha. A programação é a forma mais acessível de trazer a tecnologia para a sala de aula. Exige apenas um computador e um certo esforço do corpo docente. “A gente chegava em uma escola que tinha um laboratório super equipado, ia ver e estava trancado, ninguém sabia onde estava a chave”, conta Rocha.
Além de desenvolver o raciocínio, a programação pode abrir portas para o mercado de trabalho. Pesquisas apontam um déficit mundial de profissionais em tecnologia, engenharia, programação, física e matemática – uma tendência que deve se manter ao menos até 2022, segundo a coordenadora do Lego League no Paraná, Raquel do Nascimento, do Colégio Sesi.
Diretora de cidadania da Microsoft Brasil, Katia Gianone conta que a multinacional trabalha com a Organização Mundial da Juventude para incluir a programação nos currículos escolares, por entender que é algo que “estimula a empregabilidade” e cria oportunidades de negócios. A empresa trabalha em conjunto com ONGs para oferecer aulas em áreas carentes, para popularizar conteúdos que as pessoas não usam por falta de conhecimento.